Gimnema na obesidade
- Lincoln Cardoso

- 11 de jul.
- 7 min de leitura
Atualizado: 13 de jul.
A gimnema é uma planta medicinal amplamente estudada, e muito aplicada na Fitoterapia, especialmente no controle do diabetes mellitus tipo-2. Sua espécie é Gymnema sylvestre (Retz.) R. Br. ex Sm., e pertence à família botânica Apocynaceae. É nativa da Índia, e também de algumas regiões tropicais da África e Austrália. A gimnema é usada há séculos na tradicional medicina Ayurveda, na qual é indicada como hipoglicemiante. Razão pela qual é conhecida popularmente como “gudmar”, termo originado do hindi “gurmar” que significa “destruidor de açúcar”. Mas a literatura também reporta possíveis efeitos colagogo, colerético e antiespasmódico. A parte usada da planta são as folhas que, in natura, apresentam um sabor amargo proeminente. Estas folhas devem ser colhidas e submetidas a secagem adequada no preparo da droga vegetal que, por sua vez, pode ser pulverizada e também usada na fabricação de diversos tipos de extratos e tinturas. A gimnema é uma planta trepadeira lenhosa, com caules e galhos duros e entrelaçados. Suas folhas são opostas, ovais ou elípticas, com 3 a 5 cm de comprimento e 0,7 a 3 cm de largura, sendo lisas na parte superior e aveludadas na inferior, com bordas ciliadas. As flores são pequenas e amarelas, e formam uma umbela axilar, e seu cálice tem 5 lóbulos ciliados. O fruto é do tipo folicular, com sementes ovais, brancas e planas, com cerca de 1,3 cm, com uma fina asa marginal.
🌿✨ DIFERENCIAIS DA GIMNEMA
A gimnema conta com uma composição fitoquímica muito rica, sendo constituída por polipetídeos, como a gurmarina; alcaloides, a exemplo da gimnamina; ácidos orgânicos, como os ácidos fórmico, butírico e tartárico; fitoestesteróis, que incluem o estigmasterol, β-amirina e o lupeol; compostos nitrogenados, como betaína, colina, adenina e trimetilamina; além de alguns flavonoides e antraquinonas. Mas, o destaque deve ser dado aos constituintes fitoquímicos da classe das saponinas triterpênicas, dos tipos oleanano e damarano, presentes nas folhas da gimnema. As saponinas do tipo oleanano incluem os ácidos gimnêmicos I a IV e as gimnemassaponinas I a V. Ao passo que as saponinas do tipo damarano são os compostos gimnemasídeos, ou seja, saponinas glicosídicas. Esse rico fitocomplexo é responsável pelos mecanismos farmacológicos que promovem o efeito hipoglicemiante característico da espécie Gymnema sylvestre. Assim, o marcador fitoquímico da gimnema são os ácidos gimnêmicos totais, cujo teor na droga vegetal deve ser de, no mínimo, de 1,0%, calculado como gimnemagenina.

Há dois principais tipos de extratos secos disponíveis, tanto para a fabricação industrial quanto para a manipulação magistral de fitoterápicos à base de gimnema:
· Extrato seco das folhas, padronizado em, no mínimo, 25% de ácidos gimnêmicos totais, calculados como gimnemagenina.
· Extrato seco das folhas, padronizado em, no mínimo, 75% de ácidos gimnêmicos totais, calculados como gimnemagenina.
É o extrato seco padronizado em, no mínimo, 75% de ácidos gimnêmicos que é mais empregado nos ensaios clínicos randomizados que investigam os efeitos da Gymnema sylvestre. As doses terapêuticas estabelecidas se baseiam nesse extrato e no seu teor de marcador fitoquímico bioativo. Portanto, este é o insumo farmacêutico ativo vegetal (IFAV) que deve ser usado na produção e na manipulação dos medicamentos ou suplementos fitoterápicos. Contudo, o extrato seco padronizado em 25% também pode ser usado, desde que se aplique o Fator de Correção do modo certo. Em formas farmacêuticas líquidas, podem ser usadas as tinturas das folhas secas de Gymnema sylvestre, com RDE (Relação Droga-Extrato) de 1:10 (10% p/v) ou de 1:5 (20% p/v).
💊🩺 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E TERAPÊUTICAS
Diversos estudos clínicos e randomizados demonstram os efeitos farmacológicos da gimnema na obesidade e no tratamento de condições metabólicas, com ênfase em distúrbios glicêmicos. Um estudo publicado em 20241 comparou os efeitos do extrato de Gymnema sylvestre com o da berberina, mostrando que a planta foi eficaz na redução dos níveis de glicose no sangue, na melhoria da resistência à insulina e na modulação dos adipócitos. Outros estudos reportam que a administração de Gymnema sylvestre pode reduzir o desejo por doces, o que poderia contribuir com o controle de peso corporal no manejo da obesidade. Além disso, evidências científicas apontam que os ácidos gimnêmicos podem atuar na regeneração das células β-pancreáticas, melhorando a secreção de insulina em pacientes com diabetes mellitus tipo-2. A planta também exerce efeitos anti-inflamatório e antioxidante, protegendo os vasos sanguíneos e o fígado contra o estresse oxidativo, que está frequentemente associado ao diabetes e à síndrome metabólica.
A Gymnema sylvestre é amplamente utilizada na Fitoterapia clínica, principalmente como adjuvante no controle do diabetes mellitus tipo-2. De um modo geral, consiste em um fitoterápico de relevante utilidade para o manejo de distúrbios metabólicos, como na síndrome metabólica cardiovascular. Essas indicações estão baseadas em estudos científicos que demonstram sua eficácia na redução dos níveis de glicose em jejum, no controle do peso corporal e no controle dos níveis de colesterol total. Além disso, a planta também é indicada para pacientes com sobrepeso e obesidade, contribuindo para o controle da compulsão alimentar por doces, através de sua ação sobre os receptores de sabor doce na língua.
🍭🍬 REDUÇÃO DO DESEJO POR DOCES?
A redução do desejo por alimentos doces é uma das indicações terapêuticas mais atribuídas à espécie botânica Gymnema sylvestre. Este efeito seria especialmente útil no controle de compulsões alimentares e, por conseguinte, no tratamento de alguns casos obesidade. Esse efeito é frequentemente explorado em preparações fitoterápicas para auxiliar indivíduos que buscam controlar a ingestão excessiva de açúcar e reduzir a dependência de alimentos doces, uma das principais causas do ganho de peso e do desenvolvimento de doenças metabólicas, como o diabetes mellitus tipo-2.
O mecanismo farmacológico possivelmente responsável por este efeito de reduzir o desejo por alimentos doces está relacionado aos ácidos gimnêmicos presentes nas folhas de Gymnema sylvestre. Há evidências de que esses compostos interagem com receptores de sabor doce na língua, interferindo diretamente na percepção deste sabor. Estudos sugerem que, ao se ligarem a esses receptores, os ácidos gimnêmicos bloqueiam o reconhecimento sensorial do sabor do açúcar, tornando os alimentos doces menos atrativos. Há estudos que indicam que, além dessa ação local, os ácidos gimnêmicos poderiam influenciar alguns mecanismos de controle do apetite e do metabolismo da glicose. Esses compostos exercem efeitos moduladores na liberação de insulina e na função das células β-pancreáticas, melhorando a resposta à glicose e ajudando a controlar a fome. A melhora no controle glicêmico pode, por sua vez, reduzir as oscilações nos níveis de glicose no sangue, um fator que frequentemente está associado a desejos por alimentos doces e ao aumento do apetite. Mas este efeito ainda é contraditório! Um estudo publicado em 2022 na revista científica Nutrients2 reporta que uma intervenção de 14 dias com Gymnema sylvestre reduziu o prazer e a ingestão de chocolate em um ambiente controlado de laboratório. No entanto, não houve mudanças significativas na ingestão de alimentos doces em um ambiente natural.
Uma preparação magistral fitoterápica recomendada para a redução do desejo de alimentos doces é uma solução oral em spray, para aplicação tópica sobre a língua. A fórmula é esta:
# | INSUMO | CONCENTRAÇÃO |
1 | Gymnema sylvestre, tintura 1:5 | 25% (v/v) |
2 | Benzoato de sódio | 0,1% (p/v) |
3 | Metilparabeno | 0,05% (p/v) |
4 | Esteviosídeos | 0,1% (p/v) |
5 | Glicirrizinato de monoamônio | 0,05% (p/v) |
6 | Álcool etílico neutro (96 °GL) | 3,5% (v/v) |
7 | Flavorizante de menta | 0,12% (v/v) |
8 | Flavorizante de anis | 0,08% (v/v) |
9 | Água purificada | 10% (v/v) |
10 | Sorbitol (sol. 70% p/v) q.s.p. | 100 mL |
Entretanto, mais estudos clínicos e randomizados são necessários para realmente comprovar e validar esta indicação terapêutica para a Gymnema sylvestre.
⚠️🌱 MAS É NECESSÁRIO ATENÇÃO E CUIDADO...
Embora seja uma planta medicinal relativamente segura, a Gymnema sylvestre pode causar algumas reações adversas, especialmente em doses elevadas. Entre as reações mais comuns estão sintomas gastrointestinais, como náuseas, diarreia e dor abdominal. O uso de fitoterápicos à base de gimnema é contraindicado durante a gravidez e lactação, devido à falta de estudos suficientes sobre a sua segurança nesses casos.
Fitoterápicos contendo gimnema podem se envolver em interações medicamentosas!! Sua associação com medicamentos hipoglicemiantes orais ou insulina, em pacientes diabéticos, pode causar hipoglicemia. Esta condição é caracterizada por concentração de glicose no sangue abaixo de 70 mg/dL. Em pacientes diabéticos, a hipoglicemia pode ser desencadeada por diversos fatores, incluindo o uso inadequado ou em excesso de medicamentos hipoglicemiantes. Os sintomas podem variar de leves a graves, e incluem: tremor, sudorese, palpitação, ansiedade, tontura, visão turva, confusão mental, dificuldade de concentração e, em casos mais graves, convulsões e perda de consciência.
Pacientes diabéticos – em tratamento com medicamentos hipoglicemiantes orais e/ou insulina – e que utilizam fitoterápico à base de Gymnema sylvestre, devem ser acompanhados por um Farmacêutico Clínico competente em interações medicamentosas. Esse acompanhamento farmacoterapêutico deve incluir a avaliação frequente dos níveis de glicemia capilar, de modo a monitorar a ocorrência das possíveis reações adversas decorrentes de interações medicamentosas. Em casos de maior relevância clínica, é necessário ajustar as doses do fitoterápico, ou mesmo interromper o seu uso.
🧑🏾🔬⚗️ FUTURO PROMISSOR
A Gymnema sylvestre é uma planta medicinal muito promissora, que se destaca na Fitoterapia devido aos seus potenciais efeitos terapêuticos. Contudo, como qualquer medicamento fitoterápico, o seu uso deve ser racional e orientado por um profissional da saúde habilitado. Fitoterápicos à base de Gymnema sylvestre podem contribuir no manejo do diabetes mellitus tipo-2. E evidências científicas mais recentes têm apontado os benefícios da gimnema na obesidade e no gerenciamento do sobrepeso. Novos estudos científicos são necessários para ampliar o conhecimento sobre estes efeitos e, assim, validar a sua aplicação clínica na Fitoterapia. Por outro lado, as farmácias magistrais devem padronizar o IFAV correto para garantir a qualidade, a segurança e a eficácia dos fitoterápicos manipulados com a planta. Todo esse conjunto de cenários indica que a espécie botânica Gymnema sylvestre merece muita atenção científica para o seu uso como planta medicinal na Fitoterapia, de forma racional.
1 Bandala C, Carro-Rodríguez J, Cárdenas-Rodríguez N, et al. Comparative effects of Gymnema sylvestre and berberine on adipokines, body composition, and metabolic parameters in obese patients: a randomized study. Nutrients. 2024; 16(7):1055. DOI: 10.3390/nu16071055. PMID: 39064727. PMCID: PMC11280467.
2 Turner N, Diako C, Kruger R, et al. The effect of a 14-day Gymnema sylvestre intervention on reducing sweet cravings in adults. Nutrients. 2022; 14(24):5287. DOI: 10.3390/nu14245287. PMID: 36558446. PMCID: PMC9788288.



Comentários