top of page

ÁGUA PARA USO FARMACÊUTICO

  • Foto do escritor: Lincoln Cardoso
    Lincoln Cardoso
  • 28 de abr.
  • 10 min de leitura

Atualizado: há 4 dias

A água é considerada o mais importante insumo farmacêutico, porque é usada em diversos processos químicos e farmacotécnicos, em toda a extensão da cadeia produtiva dos fármacos, medicamentos, cosméticos e produtos correlatos. A água é uma matéria-prima, bem como é um produto de interesse farmacêutico com diversas aplicações. E nesse artigo, você vai aprender mais sobre a água para uso farmacêutico. Quer saber?

 

Assista ao vídeo com este tema

Aplicações da água purificada

 

A água purificada é usada em quase todos os processos químicos de fabricação de fármacos e insumos farmacêuticos, bem como nos processos farmacotécnicos de produção de medicamentos. Ela é usada em diversas reações químicas de pesquisa e de análise, em laboratórios. E é muito empregada na lavagem e sanitização de equipamentos farmacêuticos. A água purificada é de fundamental importância na manipulação magistral de medicamentos em farmácias, onde serve como insumo e solvente, além da lavagem de materiais e utensílios. As preparações farmacêuticas – como medicamentos, suplementos alimentares e cosméticos – devem ter garantia de pureza como um dos seus parâmetros de qualidade. Por isso, a água usada na fabricação ou manipulação desses produtos também deve atender a critérios específicos de pureza. A Farmacopeia Brasileira estabelece essas especificações, ao determinar os parâmetros de qualidade da água para uso farmacêutico.

 

Contaminantes da água

 

A contaminação da água é um problema muito relevante nos processos farmacêuticos. Por isso, a sua qualidade deve ser constantemente monitorada, para a devida aplicação de medidas preventivas ou corretivas, quando aplicável. A contaminação da água para uso farmacêutico pode ocorrer por causas químicas ou biológicas. As contaminações químicas envolvem substâncias e compostos de natureza orgânica ou inorgânica; ao passo que a contaminação biológica ocorre pela presença de microrganismos, como bactérias e fungos. As bactérias, além de causar doenças, podem comprometer a qualidade da água para uso farmacêutico, influenciando a ação de reagentes e princípios ativos. Também podem interagir com substratos por ação enzimática, em meio à água, elevando os níveis de carbono orgânico total. O que interfere em resultados analíticos, além de promover a produção de pirogênios, como as endotoxinas.

A contaminação da água – seja por contaminantes químicos ou biológicos – pode ocorrer em diferentes etapas do sistema de abastecimento, desde a própria nascente natural, até os sistemas de tratamento, tubulações e reservatórios públicos e industriais. Até mesmo a água já purificada e armazenada na indústria ou farmácia pode ser contaminada. Isso acontece quando os dutos e reservatórios não são lavados e sanitizados adequadamente, conforme as boas práticas de fabricação ou de manipulação. Ou ainda, quando entram em contato com produtos, utensílios e superfícies contaminadas. Por isso, todo o cuidado é pouco!!

 

Água como solvente universal e insumo farmacêutico

 

A água é considerada o solvente universal, porque é capaz de dissolver muitas substâncias química polares e iônicas. Essa propriedade é fundamental para grande parte dos processos químicos e farmacêuticos, bem como para os processos fisiológicos que resultam na dissolução que leva à absorção de fármacos e nutrientes no organismo humano. Assim, o solvente mais usado na fabricação e na manipulação de medicamentos é, sem dúvida, a água! Esse composto químico incrível apresenta diversas características e propriedades de grande interesse farmacêutico, como a ausência de toxicidade e a compatibilidade fisiológica. E ainda, a água possui uma constante dielétrica elevada, o que lhe confere a propriedade de solubilizar diversas substâncias químicas ionizáveis. Entretanto, essa ótima capacidade de solubilização não é seletiva, o que permite também a presença de substâncias indesejadas, orgânicas ou inorgânicas, na sua composição. A água tem utilidade farmacêutica tanto como matéria-prima quanto para processos de lavagem, limpeza e sanitização, devido às suas características físico-químicas e ótima capacidade solvente. Mas também pode ser uma fonte de substâncias indesejadas, caso contenha contaminantes químicos ou biológicos.

 

Água potável

 

Os processos de purificação de água para fins farmacêuticos são realizados a partir da água potável. Esta é obtida por tratamento da água retirada de mananciais, por meio de processos adequados para atender às especificações da legislação brasileira relativas aos parâmetros físicos, químicos, microbiológicos e radioativos, para um determinado padrão de potabilidade. E devido aos seus parâmetros de qualidade serem estabelecidos por legislação específica, a água potável não conta com uma monografia na Farmacopeia Brasileira. A água potável pode ser usada nas etapas iniciais de processos de limpeza de áreas e equipamentos farmacêuticos, e também como fonte de obtenção de água de maior grau de pureza. Pode ser utilizada, também, na climatização térmica de alguns aparatos e na síntese de ingredientes intermediários. Todo o controle e a manutenção de conformidade dos parâmetros de potabilidade da água são fundamentais, críticos e de responsabilidade do usuário do sistema de purificação que vai ser alimentado. O controle deve ser periódico, para garantir que o sistema de purificação usado esteja apropriado para as condições da fonte de alimentação, e para que não ocorra alteração da qualidade da água fornecida.

 

Purificação da água para uso farmacêutico

 

Em geral, os processos farmacêuticos exigem uma água de maior rigor de pureza, o que pode ser obtido por técnicas de purificação aplicadas à água potável. Essas técnicas incluem a destilação, deionização, troca iônica e osmose reversa, por exemplo. Esses métodos permitem produzir uma água purificada, livre de contaminantes e, assim, apropriada para o uso na fabricação ou manipulação de medicamentos, cosméticos e outros produtos farmacêuticos. Esses métodos de purificação são explicados em outro artigo disponível aqui, no Blog Farmacosophia. Corre lá, e aprenda ainda mais!

Os parâmetros de qualidade da água para uso farmacêutico são estabelecidos pela Farmacopeia Brasileira vigente. É nesse compêndio que devemos consultar as especificações técnicas e os métodos analíticos a serem aplicados. Entretanto, no que diz respeito ao setor farmacêutico magistral, há uma resolução sanitária que determina critérios específicos e bem direcionados para o setor: a RDC-ANVISA nº 67, de 08 de outubro de 2007. Essa resolução dispõe sobre as “Boas Práticas de Manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias”. E se aplica, portanto, para as farmácias de manipulação. Esse marco regulatório traz diversas abordagens sobre água para uso farmacêutico, como definições, critérios de boas práticas e requisitos de estrutura e recursos para a garantia da qualidade da água utilizada na manipulação em farmácias.

A RDC 67 também traz determinações sanitárias para a garantia da qualidade da água usada na manipulação de preparações estéreis em farmácias. E determina – entre outros temas – os materiais, equipamentos e utensílios básicos que uma farmácia de manipulação precisa ter para operar com condições mínimas de boas práticas e qualidade. Também estabelece claramente que a farmácia tem que possuir um sistema de purificação de água. A água usada na manipulação magistral é considerada matéria-prima, produzida pela própria farmácia por meio da purificação da água potável. E, para isso, todo o sistema de purificação – que envolve as instalações, os equipamentos purificadores e os reservatórios – devem ser seguros, eficientes, preservados e devidamente sanitizados para evitar contaminação. A farmácia deve ser abastecida com água potável, geralmente fornecida pela rede pública de abastecimento. E a caixa d'água deve estar devidamente protegida para evitar a entrada de animais, insetos ou quaisquer outros contaminantes, devendo haver procedimentos documentados e bem estabelecidos para a sua limpeza, sanitização e manutenção frequentes, com os devidos registros que comprovem a realização e a periodicidade desses cuidados.

A farmácia deve possuir procedimentos devidamente documentados, que estabeleçam os métodos para amostragem da água e para as análises que devem ser feitas periodicamente. Devem ser feitos testes físico-químicos e microbiológicos, no mínimo a cada seis meses, para monitorar a qualidade da água potável, mantendo-se os respectivos registros. E as especificações para a água potável devem ser aquelas estabelecidas pela legislação vigente. Os ensaios a serem realizados incluem a determinação de pH, cor aparente, turbidez, cloro residual livre, sólidos totais dissolvidos, contagem total de bactérias, coliformes totais, presença de Escherichia coli e coliformes termorresistentes.

Todas essas medidas são de fundamental importância, porque a água usada na manipulação é obtida a partir da purificação da água potável, que precisa ser tratada por um sistema que assegure a obtenção de uma água que atenda às especificações farmacopeicas para água purificada. A RDC nº 67/2007 também determina que deve haver procedimentos escritos para a limpeza e manutenção do sistema de purificação da água, com os devidos registros. E também devem ser feitos testes físico-químicos e microbiológicos para avaliação da qualidade da água purificada. Mas, nesse caso, os ensaios devem ser realizados, no mínimo, uma vez por mês! A farmácia deve possuir procedimento escrito para a coleta e amostragem da água purificada, sendo que um dos pontos de amostragem deve ser o reservatório usado para o seu armazenamento, antes do uso na manipulação. E a farmácia também deve estabelecer, registrar e avaliar a efetividade das medidas adotadas, por meio de uma nova análise, em caso de resultado não conforme.

A água purificada não deve ser armazenada por um período maior do que 24 horas. Passado esse prazo, a água deve ser aproveitada para fins de limpeza geral, por exemplo. E a água purificada deve ser armazenada em condições que garantam a manutenção da sua qualidade. Por isso, os reservatórios ou recipientes de armazenamento devem ser sanitizados – de acordo com as boas práticas de laboratório – a cada novo abastecimento ou troca da água purificada. Em ambos os casos – tanto da água potável, quanto da água purificada – a farmácia pode terceirizar os testes de controle da qualidade: físico-químicos e microbiológicos. Desde que estabeleça para o laboratório contratado as devidas especificações que, para a água potável devem ser aquelas da legislação vigente; e para a água purificada, de acordo com os critérios farmacopeicos. A farmácia, ainda, deve manter os registros das medidas adotadas nos casos de laudo insatisfatório, que reprove a qualidade das amostras examinadas. Deste modo, está bem demonstrado que a RDC nº 67/2007 é bastante criteriosa ao estabelecer requisitos mínimos de boas práticas para a garantia da qualidade da água usada para manipulação em farmácias.

Mas o mesmo não acontece com a RDC nº 301, de 21 de agosto 2019. Essa é a resolução que dispõe sobre as diretrizes gerais de “Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos”. Portanto, se aplica para a indústria farmacêutica! Essa resolução se reporta muito pouco aos requisitos sanitários para a água de uso farmacêutico nas indústrias. A única alusão feita é referente à infraestrutura. Nesse tópico, descreve que a tubulação de água purificada e de água para injetáveis e, se for o caso, de qualquer outro tipo de água, deve ser sanitizada de acordo com procedimentos escritos que contenham detalhes sobre os limites de contaminação microbiológica, bem como as medidas a serem adotadas. E não traz nenhum outro parâmetro ou critério específico. Essa pouquíssima referência da RDC nº 301/2019, em relação à água para uso farmacêutico, deixa claro que nos cabe recorrer à Farmacopeia Brasileira para buscarmos tanto pelas especificações do tipo de água a ser usada quanto pelos métodos de purificação e ensaios analíticos de qualidade. E, de fato, a Farmacopeia Brasileira traz todos esses tópicos muito bem demonstrados e explicados, prontos para a prática! A ANVISA também publica materiais complementares, como apostilas técnicas que orientam o setor farmacêutico industrial sobre as boas práticas aplicadas à garantia da qualidade da água para uso farmacêutico, nos seus diferentes tipos.

Mas ainda, em se tratando de legislação, vale mencionar a Instrução Normativa da ANVISA - IN nº 35, de 21 de agosto de 2019. Esse marco regulatório dispõe sobre as “Boas Práticas de Fabricação complementares a medicamentos estéreis”. E traz alguns poucos critérios sanitários exigidos para a garantia da qualidade da água empregada na fabricação de produtos estéreis. Agora, você vai conhecer algumas outras definições técnicas e especificações de diferentes tipos de água purificada para uso farmacêutico. São conceitos importantes que devemos aplicar na prática profissional!

 

Água purificada

 

A água purificada é produzida a partir da água potável, atendendo às especificações famacopeicas. Não contém qualquer outra substância química, e é obtida por uma combinação de sistemas de purificação, como: múltipla destilação; troca iônica; osmose reversa; eletrodeionização; ultrafiltração, ou outro método. É empregada como excipiente na produção de formas farmacêuticas não parenterais, e em formulações magistrais, desde que não haja nenhuma recomendação de pureza superior para o seu uso, ou que não precise ser apirogênica. Também, pode ser utilizada na lavagem de material, preparo de soluções reagentes, meios de cultura, tampões, diluições diversas, microbiologia em geral, análises clínicas, técnicas por ELISA (Enzyme Linked Immunosorbent Assay) ou radioimunoensaios, e aplicações diversas na maioria dos laboratórios, principalmente em análises qualitativas ou quantitativas de menor exigência. A água purificada também é usada nos ensaios e determinações que indiquem o emprego de água, a não ser que haja especificação em contrário quanto ao nível de pureza requerido, como por exemplo, alguns métodos analíticos instrumentais e análises que exijam água apirogênica ou de pureza química superior. Pode ser empregada em cromatografia a líquido de alta eficiência, quando confirmado que o seu uso não afeta a exatidão e nem a precisão dos resultados.

A qualidade da água purificada deve ser monitorada quanto à contagem total de microrganismos aeróbicos viáveis, na produção e estocagem, visto que não possui nenhum inibidor de crescimento adicionado a ela. E deve apresentar algumas especificações determinadas pela Farmacopeia Brasileira:

 

·       Condutividade: no máximo, 1,3 mS/cm a 25,0 ºC

·       Resistividade: > 0,77 MΩ.cm

·       Carbono orgânico total (COT): ≤ 0,50 mg/L

·       Contatem total de bactérias: ≤ 100 UFC/mL, a não ser que especificado de forma diferente.

 

Todo o sistema de obtenção, armazenamento e distribuição da água purificada deve ser devidamente validado e monitorado quanto aos parâmetros de condutividade e contagem microbiana. Ainda que seja especificada uma contagem microbiana máxima de 100 UFC/mL na monografia, cada indústria, farmácia ou laboratório deve estabelecer o seu próprio limite – de acordo com as operações e análises realizadas – caso as características específicas de utilização sejam mais restritivas.

 

Água ultrapufificada

 

A água ultrapurificada deve possuir baixa concentração iônica, baixa carga microbiana e baixo nível de carbono orgânico total. Esse tipo de água é usado em laboratórios de ensaios analíticos, envolvendo diversos procedimentos e tipos de análises. Devido ao seu maior nível de pureza, ela deve usada no momento do seu preparo, ou no máximo no mesmo dia da coleta. As suas especificações farmacopeias indicam:

 

·       Condutividade: no máximo, 0,055 μS/cm a 25,0 ºC

·       Resistividade: > 18,0 MΩ.cm

·       Carbono orgânico total (COT): ≤ 0,50 mg/L

·       Endotoxinas: < 0,25 UE/mL (quando alta qualidade biológica é requerida)

·       Contagem total de bactérias: ≤ 10 UFC/100 mL

 

Água para injetáveis

 

A água para injetáveis é aquela usada como excipiente na preparação de produtos farmacêuticos parenterais. Também serve para a fabricação de princípios ativos de uso parenteral, produtos estéreis e demais produtos que precisem de controle dos níveis de endotoxinas. Também é usada na limpeza e preparação de processos, equipamentos e componentes que entram em contato com fármacos e medicamentos estéreis durante sua produção. O processo de purificação de primeira escolha é a destilação, em equipamento cujas paredes internas são fabricadas em metal apropriado (como o aço inox), vidro neutro ou quartzo. A água para injetáveis também pode ser preparada por outros processos semelhantes, ou melhores, à destilação para a remoção de contaminantes químicos e microrganismos. Desde que o método seja devidamente validado e monitorado quanto aos parâmetros estabelecidos. A água de alimentação deve ser, no mínimo, potável e, em geral, precisa ser pré-tratada para alimentar os equipamentos. A água para injetáveis deve atender às mesmas especificações físico-químicas estabelecidas para a água purificada. Mas também, deve apresentar alguns parâmetros próprios de qualidade:

 

·       Contagem total de bactérias: ≤ 10 UFC/100 mL

·       Endotoxinas bacterianas: < 0,25 UE/mL

 

Estes são os tipos de água purificada para uso farmacêutico, e suas especificações. E para aprender mais sobre os sistemas de purificação de água, você deve buscar pelo artigo que trata deste tema aqui, no Blog Farmacosophia. Quer saber?

Commentaires

Noté 0 étoile sur 5.
Pas encore de note

Ajouter une note
bottom of page